02/06/2010

PSP investiga agressões a cinco jovens no Bairro Alto - Jornal i

Notícia do Jornal "i"


A PSP instaurou um processo interno para averiguar se a actuação policial nos desacatos entre agentes da polícia e um grupo de jovens no passado domingo foi adequada à "ameaça existente", explica ao i o comissário da direcção nacional da Polícia de Segurança Pública,Paulo Flor. 

Às 07h00 de domingo, dia 30 de Maio, os cinco jovens, detidos pela PSP no decorrer da madrugada no Bairro Alto, em Lisboa, deram entrada no Hospital de S. José, alegando "violentas agressões de elementos da PSP". Hoje às 10h00 os detidos e os polícias serão presentes a tribunal.

Alexandre Gonçalves, um dos jovens detidos, é fotojornalista e tinha passado a tarde na manifestação da CGTP em Lisboa "em trabalho". À noite foi jantar com um amigo que conhecera dois dias antes, Pedro Pereira. Durante o jantar conheceu Sérgio Henriques e os três - acompanhados por outros amigos - estavam a caminho do Bairro Alto. Nesse momento Alexandre viu uma rapariga no chão a ser pisada por um polícia. "Havia uma grande confusão, não consigo dizer quantas pessoas estavam envolvidas", recorda. 

De acordo com a polícia, eram 2h40 da manhã quando os agentes chegaram à Travessa da Boa Hora, depois de "alguém ter visto os desacatos" e ter telefonado. À chegada ao local os agentes foram recebidos com "apedrejamentos, arremesso de garrafas e injúrias verbais". Fonte oficial da PSP disse ao que a "confusão envolveu cerca de 15 pessoas". Até chegar o reforço, estavam apenas dois agentes no local. Alexandre Gonçalves nega que fossem apenas dois e assegura que não ocorreu nenhuma agressão física ou verbal a elementos da polícia. "Algumas pessoas, indignadas por verem uma rapariga no chão a ser pisada, gritavam: 'Cobarde, cobarde.'" Questionado pelo sobre as alegadas agressões a Marlene Pereira, Paulo Flor afirma que "os cinco cidadãos serão presentes hoje em tribunal", e portanto "até à conclusão do processo a PSP não confirmará nem rebaterá qualquer informação". 

Nos instantes seguintes, Alexandre, que conservava o material de trabalho, tirou a máquina para captar as agressões. "Foi a ideia mais infeliz que tive, porque nesse momento eles viraram-se a mim e começaram a bater-me." Segundo o fotojornalista, os agentes também lhe retiraram o cartão de memória. Nesse momento, os amigos Sérgio e Pedro entraram em sua defesa. Ainda na Travessa da Boa-Hora, a polícia deteve os três colegas, a rapariga e um outro rapaz (Rogério), diz Alexandre, "apenas por ter chamado cobardes aos agentes". Já na esquadra, os cinco jovens viveram "o horror". "Havia muita gritaria. Foi animalesco. Não paravam de bater", relata Alexandre, que conta que os cinco foram transportados posteriormente até à Polícia Judiciária, onde os identificaram e fotografaram. "Fomos estranhamente auxiliados, à saída das viaturas, pelos agentes da PSP, que minutos antes nos batiam com violência", recorda. "Não pareciam as mesmas pessoas. Deixaram o lado selvagem na esquadra", conclui. Passado algum tempo voltaram para a esquadra da PSP, onde foram novamente agredidos. Eram 7h00 da manhã quando deram entrada no Hospital de S. José, com hematomas graves. Sérgio Henriques saiu do hospital com um tímpano furado. A PSP, mais uma vez, não comentou ao estas informações, remetendo para as conclusões do processo interno a decorrer.

Este é mais um caso que se soma a outros incidentes que envolveram agentes da polícia nos últimos dias. Na madrugada de 25 de Maio, os estudantes Vasco Dias e Laura Diogo afirmam ter sido agredidos por agentes da PSP quando caminhavam em direcção ao Cais do Sodré. "Bateram-me até cair", contou ao o jovem, que às 4h30 deu entrada no Hospital de S. José com um maxilar fracturado. A ocorrência motivou uma manifestação contra a violência policial que decorreu no centro de Lisboa, também no passado domingo. Um dia antes, Tiago Galamba foi agredido por polícias no decorrer da mega-manifestação da CGTP. O manifestante assegura que não esteve envolvido em qualquer confusão com a polícia. O contactou o Ministério da Administração Interna, mas até ao fecho da edição não obteve qualquer resposta. 


"O que aconteceu dentro da esquadra foi animalesco. Eles não paravam de bater"

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