29/07/2008

Estudante alemão diz ter sido espancado pela PSP

DIANA MENDES29 Julho 2008 para DN
 
Justiça. Um estudante alemão de 23 anos conta ao DN que foi agredido e obrigado a despir-se na sexta-feira por três polícias dentro da esquadra das Mercês, em Lisboa. A PSP nega quaisquer agressões e conta uma versão oposta. O advogado do jovem vai apresentar queixa ao Ministério Público
Polícia nega qualquer acto de agressão ao aluno
Adrian veio da Alemanha para estudar e cedo gostou de Lisboa. Da cidade e mesmo de alguns hábitos mais rebeldes como andar à boleia num eléctrico. Na sexta-feira, porém, o acto de ousadia terá acabado mal. O estudante diz que foi agredido por vários polícias numa esquadra do Bairro Alto e obrigado a despir-se perante agressões físicas e verbais. O aluno enviou ao DN fotos, mas a PSP recusa quaisquer agressões, alegando que as mazelas se devem ao facto de ter sido "puxado do eléctrico", porque tentou fugir.
Aluno de Erasmus há seis meses no País, Adrian conta que lhe aconteceu algo que nunca pensou possível. "Tenho vários amigos que foram agredidos pela polícia, um deles também estrangeiro", denuncia. "Mas nunca imaginei que acontecesse comigo". Depois de supostamente o terem arrancado do eléctrico, diz que o meteram num carro e foram para a esquadra. "Não me pediram qualquer documento de identificação e eu não queria ir, porque achava que não era preciso".
A PSP refere outra realidade. "Recebemos várias chamadas a alertar que um rapaz estava a causar distúrbios na via pública. E que ninguém percebia qual era a sua língua. Mal chegámos, ele fugiu da polícia e pendurou-se no eléctrico. Tivemos de fazer pressão para o tirar de lá".
Na esquadra das Mercês, Adrian alega ter pedido "para telefonar e um copo de água, mas só gritaram e disseram palavrões. Tu não és nada, nós é que fazemos perguntas". Foi então que o terão mandado despir: "Queriam fazer controlo de armas ou de droga". Mesmo estando de roupa interior, conta que ordenaram que se despisse totalmente. "Uma humilhação... Disse que não o ia fazer e recebi pancada". Adrian garante que os dois polícias na sala lhe bateram na cabeça, "com os punhos, as mãos abertas e com luvas de couro". A PSP desmente todas as agressões. "Ele foi transportado para a esquadra e nem sabíamos que era estrangeiro até vermos a identificação. Ele não falava português nem inglês".
Adrian diz ainda que o primeiro reflexo que teve foi tentar fugir. Uma porta aberta foi alcançada pelo estudante de 23 anos, mas, do outro lado, segundo ele, dois polícias bloquearam a saída e atiraram-no para o chão. "Ficaram três pessoas comigo, deram-me pontapés estando eu quase todo nu. Gritei, pedi ajuda. Só queria que parassem. E eles ainda me disseram e rir que aquele era o local certo para pedir ajuda", explica. "Eles nem viram que era estrangeiro e eu nem conseguia falar porque eles falavam muito rápido e estava nervoso. Só depois disto me pediram a identificação e viram os meus objectos pessoais".
Terá sido então que o deixaram sair acompanhado. Conta que no meio da confusão e da dor, ainda riu ao vislumbrar o código de ética da PSP "numa grande moldura". Foi ter então com a namorada e apresentar queixa à PSP da Lapa. "Apresentei queixa, mas o polícia ainda se riu e disse que não iam denunciar os colegas". Dirigiu-se ao hospital e diz que o relatório foi conclusivo: "Murros e traumas múltiplos no corpo (...) Hematoma retroauricular, escoriação no cotovelo, hipocôndrio e costas". Não se detectaram fracturas, mas fez uma pequena cirurgia.
"Estou bem, apesar de me custar a andar e a respirar. Este momento foi feio, mas eu sou forte psicologicamente. Por isso não me vou calar". O curso de linguística que tirava em Berlim, até vir para Erasmus em Lisboa, será retomado já este ano.
Fonte da PSP conta ao DN que a única coisa que foi feita, na esquadra, foi um auto de identificação. Sobre as mazelas do jovem, a mesma fonte justifica que só podem ter sido feitas "quando foi puxado do eléctrico, porque estava em andamento. Esta foi apenas uma forma de tentar imputar responsabilidades às autoridades policiais. Acredito que tenha sido esta a situação. A outra não teria lógica."