22/09/2010

A busca inesperada de produto

 No dia 6 de Setembro, houve registo de mais um caso de mau trato por parte da Polícia de Segurança Pública (PSP). Desta vez, ocorreu na zona da Amadora. A Plataforma Contra a Violência Policial já se encontrou com a vítima, que referiu nunca pensar ser possível tal situação em Portugal. Revelou-nos o seu testemunho, mas devido ao seu estado preferiu preservar a sua identidade. Neste momento, ele necessita tanto de apoio jurídico, como de apoio psicológico, ao qual a Plataforma está a tentar dar-lhe o apoio possível.

Aqui fica o seu relato e testemunho:
"Chamo-me, João Miguel e tenho vinte e oito anos (nome e idade fictícios).
  Porque fui vitima de chantagem e sofri ofensas à integridade física por parte de quem deveria proteger-me, venho então, por este meio denunciar e pedir ajuda jurídica.
  No dia seis de Setembro (segunda feira), por volta das dezoito horas, dirigia-me para a paragem de autocarro! Quando, no cruzamento da rua de Goa com a rua Dom Francisco de Almeida (Venda Nova, Amadora), sou abordado por um carro patrulha da P.S.P.. Saíram do carro dois agentes de cassetete em riste, um deles encostou a cara dele à minha e  gritando impropérios, ameaçou-me de agressão física e perguntou de uma forma exigente por "produto". Sem abrir a boca, pois estava estupefacto com o comportamento do agente,tirei do bolso cinco euros de haxixe (dois charros) e prontamente os coloquei em cima do "capôt" do carro. Ele pergunta se tenho mais, sempre a ameaçar-me com violência! Digo que não, ele agarra pela minha t-shirt e diz que vai revistar-me, eu anui, pedindo apenas que efectua-se a revista na esquadra (havia uma grande aglomeração de transeuntes e eu queria ser poupado a essa vergonha). Sem eu esperar, ele rasga-me a t-shirt, atira-me para cima do carro e virando-me ao contrário começa a simular uma revista, fingindo que me apalpa para me agredir, em seguida junta as minhas mãos às costas e algema-me, guiando-me para o banco traseiro do carro (o outro agente que era o condutor teve sempre um papel cinicamente passivo), levam-me para a esquadra.
  Ainda atordoado com esta situação, entro na esquadra (algemado) e sou alvo de chacota pelos demais agentes que se encontravam no hall. Levam-me para uma casa de banho tiram-me as algemas, ordenam que tire toda a roupa e que faça três agachamentos com o ânus virado para eles. Vexado fiz o que mandaram, com esperança que logo, logo, estaria na rua. 
  Depois de estar vestido vou ao balcão central pedir o meu bilhete de identidade, o chefe que estava de serviço disse que eu não estava detido, que poderia ir embora, só precisava de assinar um documento e a seguir dava-me o meu B.I.! Para meu espanto, reparo que esse documento estava previamente preenchido, com excepção ao espaço destinado à quantidade de droga apreendida. Recusei assinar e contestei aquele hiato em branco, aleguei que só assinaria o mesmo todo preenchido de uma forma honesta. Ele (o chefe) disse para me sentar e aguardar um pouco, pois iriam pesar aquilo noutro sítio.        
  Reparei que o haxixe ainda estava no mesmo sítio e que eles possuíam uma balança digital. Pedi de novo o meu bilhete de identidade e voltaram a dar-me o documento para assinar. 
  Começo a perceber que estava a ser alvo de chantagem, ser querer acreditar naquilo que estava a viver, pedi pela quarta ou quinta vez para me entregarem o B.I.! Com maneirismos de alguém que se julga superior, voltam a por o documento à minha frente e tornam a dizer que posso ir embora, que nunca estive detido. 
  Desesperado viro costas e venho embora, tendo ainda oportunidade de ouvir uma voz a dizer:
  -Epá, desaparece c******.
  Sem saber o que fazer, com um sentimento de impunidade e revoltado como nunca estive, dirigi-me à esquadra de Benfica para efectuar um auto de denuncia. Estava com muito medo, mas lá consegui coragem para entrar, tive a sorte de ser atendido por um agente (chefe) profissional e honesto (felizmente não são todos iguais). Esse agente auxiliou-me a preencher uma notificação e enviou-me na manha seguinte para o Instituto de Medicina Legal. 
  No dia nove de Setembro, voltei à esquadra de Benfica para pedir um comprovativo de que o meu bilhete de identidade havia sido retido ou furtado. Hoje a minha identificação é uma declaração passada pela PSP para justificar um furto da PSP (irónico). 
  Estou desempregado, não tenho posses para um advogado, por isso peço a vossa ajuda! Quero fazer um pedido de indemnização civil, todo o dinheiro da indemnização deverá reverter para uma instituição carenciada. "



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